Educando com Sensibilidade

Posted by: Genésia Maia in

Rubem Alves mostra que educar é uma arte que se ensina com amor...
No dia 15 de março, o auditório da ABCZ reuniu centenas de pessoas para prestigiar um dos intelectuais mais famosos e respeitados do País, Rubem Alves. Rubem Alves tem o dom de fazer das palavras e das idéias brinquedos e instrumentos divertidos para transmitir conhecimentos. Deste modo ele fala de uma educação que perpassa todo o universo humano. Ensina que o verbo educar deve ser conjugado com o amor e paixão. Sobre seu interesse pela educação brasileira, o próprio Rubem irá nos comunicar através desta entrevista.


Revelação: Como surgiu o seu interesse pela educação?

Rubem Alves: Eu sempre tive vontade de ensinar, mas o interesse concentrado foi quando era professor em Lavras, interior de Minas. Nesse período comecei a pensar nos problemas da educação, o assunto passou a ser parte da minha vida, é a coisa que mais me domina, o tempo todo estou pensando nisto.


Revelação: Como o senhor avalia a forma de incentivo do Governo, com o Programa Bolsa-Escola?

Rubem Alves: Para mim esses esforços são louváveis, mas a grande questão da educação não passa por aí, mas pelas cabeças dos professores. Educação não se faz com prédios com material escolar, mas ela se faz com professor apaixonado.


Revelação: Esta seria a prioridade para educação?

Rubem Alves: Para mim a prioridade que tenho é seduzir os professores. O que acontece freqüentemente, é que, com a rotina e o passar do tempo, eles ficam amargos e começam a fazer contagem do tempo para a aposentadoria. Aí perdem o encantamento com as crianças e os adolescentes.


Revelação: E qual é o grande segredo da educação?

Rubem Alves: O grande segredo é a paixão do professor. Se você tiver um professor apaixonado, ainda que ele não saiba muita didática dará um jeito.


Revelação: O senhor falou que há dois tipos de olhos na educação. Gostaria que comentasse um pouco sobre o olhar do atual educador?

Rubem Alves: A educação do primeiro olho, vê as coisas do finito, é o que a maioria das nossas escolas fazem o tempo todo, ensinar a ciência, ensinar as coisas da vida, ver o mundo. A educação do segundo olho mostra as coisas eternas. Com o primeiro olho ensinamos a ciência, com o segundo a poesia. Gastor Maschelar, se dedicou a vida inteira a educar o primeiro olho, e escreveu livros eruditos sobre a filosofia das ciências. De repente ele passou a educar o segundo olho e escreveu "A chama de uma vela". A vela para iluminar precisa se consumir. Quando Maschelar fala da vela, não se refere a conhecimentos modernos, mas ele abre um terceiro olho, o da sensibilidade.


Revelação: Como se desenvolve a sensibilidade dos educadores e educandos?

Rubem Alves: Através da literatura. O conselho que eu daria é ler literatura. Na minha área de psicanálise é muito importante conhecer a alma humana, e o conhecimento vem não é da leitura de Freud, ela ajuda, mas na medida que buscamos a literatura, então se descobre o drama da existência humana, vivida com todas as suas dores e alegrias.


Revelação: Qual a grande tarefa do educador?

Rubem Alves: A grande tarefa é dizer "está ali, está ali – perceba! Olhe!" –Fernando Pessoa diz, não basta não ser cego pra ver as árvores e as cores, há pessoas que têm vistas excelentes e não percebem nada. É preciso ensinar os nossos alunos a enxergar o mundo.


Revelação:Que conselho o senhor daria aos novos educadores?

Rubem Alves: Que a educação é absolutamente apaixonante. Paixão para uma vida. Em primeiro lugar eu diria que eles se considerem afortunados por serem tocados por esta vocação. Segunda coisa, é preciso que amem as crianças. Freqüente-mente os professores têm a preocupação com um programa. Meu filósofo favorito, Nietzsche, dizia que o verdadeiro educador é aquele que leva a sério questões relacionadas com seus alunos, inclusive a si mesmo. Logo a preocupação do educador não pode ser com o programa, deve ser com o aluno, e por isso, ele deve ter um olho para cada aluno, porque está lidando com ser humano e não com o número para exame. A primeira tarefa do educador é seduzir o aluno para o fascínio do seu objeto. Se ele não for seduzido não terá vontade de aprender. A Adélia Prado, uma grande pedagoga dizia, "não quero faca e nem queijo, eu quero é fome". Significa que a primeira tarefa é fazer o aluno ter fome do que você pretende ensinar.

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